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Dados do último censo do IBGE apontam que 24% da população brasileira tem alguma das deficiências pesquisadas (visual, auditiva, motora e cognitiva). Ou seja, uma grande parcela da população tem problemas em ver uma imagem ou escutar um áudio na web.

Um exemplo da falta de investimentos no Brasil é a constatação de que apenas 2% das páginas “gov.br” são acessíveis, segundo uma pesquisa do W3C. A INFO entrevistou Reinaldo Ferraz, desenvolvedor do W3C, para entender como o país vem melhorando o acesso à internet para deficientes.

Leia as 5 questões pertinentes ao assunto:

1 – Como define o que é acessibilidade? Há diferenças entre seu uso no mundo real e digital?

Acessibilidade na web significa assegurar que a informação de uma página esteja disponível para todos, inclusive para pessoas com quaisquer deficiências.

Barreiras de acessibilidade existem nos dois cenários: uma calçada esburacada é tão problemática quanto uma imagem que não tem um texto alternativo na web, dadas suas devidas proporções. E, em ambos os casos, a responsabilidade é do dono (da calçada e do website).

Mas não podemos negar a facilidade que a web trouxe para pessoas com deficiências: É muito mais fácil para uma pessoa tetraplégica comprar uma passagem aérea por um website do que se deslocar até uma loja para esse fim. A web trouxe mais autonomia para pessoas com deficiência, e é essa autonomia que precisa ser preservada no acesso a web

2 – A acessibilidade hoje existente na web beneficia todos os tipos de deficiências? Ela é eficaz?

Quando falamos de acessibilidade na web, lembramos primeiramente de pessoas cegas, que não conseguem enxergar o conteúdo de uma página exibida em um monitor. Mas é importante lembrar que daltônicos que acessam a web podem ter problemas ao acessar uma página que o induza a clicar em um botão de determinada cor, por exemplo.

Pessoas surdas, que não conseguem ouvir o áudio de um vídeo, se beneficiam da implementação de legendas. Pessoas com deficiências motoras ou que não tenham muita destreza com o mouse podem ter problemas ao navegar quando existe uma barreira de teclado, que o impede de continuar sua navegação.

Costumo dizer que acessibilidade na web não beneficia apenas pessoas com deficiências. Em algum momento da nossa vida, vamos precisar que as páginas web sejam acessíveis: ao utilizar um dispositivo móvel na rua, por exemplo, páginas com baixo contraste entre fundo e texto podem dificultar a leitura. Vale ressaltar que a nossa geração será usuária da web quando se tornar idosa. Se não cuidarmos da acessibilidade das páginas que desenvolvemos hoje, nós mesmos podemos ter problemas para acessa-las daqui a 30 ou 40 anos, quando nossa visão, audição e destreza motora for reduzida.

3 – O que ainda falta para que as empresas invistam em acessibilidade na web e em gadgets? Qual o custo no Brasil para ter esse tipo de cobertura?

Acredito que falta de informação ainda é uma grande barreira. Existem gestores e desenvolvedores que não fazem ideia que pessoas com deficiência possam acessar a web. O W3C Brasil tem trabalhado a conscientização da sociedade para essa questão no Brasil, com palestras e reuniões em todo país para ampliar a discussão sobre o tema.

Por outro lado, algumas empresas já notaram que pessoas com deficiência ganharam autonomia com o acesso a web e são consumidores. Se uma pessoa com deficiência tentar comprar um produto em uma loja virtual e não conseguir por alguma barreira da página, ou ele vai reclamar com a empresa (e nas redes sociais) ou vai procurar o concorrente.

O princípio para tornar um website acessível é o mesmo para a arquitetura tradicional: É muito mais barato implementar quando pensado no início do projeto do que quando a obra estiver concluída. E quando a acessibilidade faz parte do dia a dia do desenvolvedor, ele já leva isso em consideração no projeto, de forma natural, sem ter que adaptar a página depois.

4 – Há leis específicas no Brasil para acessibilidade na web? Se sim, como é feita sua fiscalização? O que os usuários podem fazer para cobrar iniciativas das empresas?

Existe um decreto de 2004 que diz o seguinte sobre acessibilidade na web:

“Art. 47. No prazo de até doze meses a contar da data de publicação deste Decreto, será obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores (internet), para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis.”

Porém, segundo o estudo “Dimensões e características da Web brasileira: um estudo do .gov.br”, publicado pelo W3C Brasil/CGI.br em 2010, apenas 2% das páginas web sob o “.gov.br” são aderentes aos padrões de acessibilidade.

Os usuários podem e devem cobrar pela acessibilidade nas páginas web. O grupo de trabalho de acessibilidade do W3C internacional publicou um documento para auxiliar pessoas em como contatar organizações sobre websites acessíveis (traduzido pelo W3C Brasil). O acesso à informação é um direito que cada cidadão deve exercer, especialmente na web.

5 – Há exemplos no Brasil de projetos de acessibilidade que tiveram sucesso? Poderia citar alguns?

O Brasil tem diversos projetos em favor da acessibilidade na web. Muitos deles concorrerão ao Prêmio Nacional de Acessibilidade na web – todos@web que vai premiar pessoas e empresas que desenvolveram um grande trabalho para acessibilidade na web, websites acessíveis e aplicativos que permitam que pessoas com deficiência tenham autonomia na web.

Além disso, existe a cartilha do E-Mag que é o modelo de acessibilidade do governo eletrônico. Ele foi criado para orientar desenvolvedores e gestores na criação de páginas web acessíveis.